Desordem neurológica atinge quase 70% das pessoas que tiveram poliomielite na infância e se manifesta na meia-idade. Com reconhecimento oficial, portadores passam a ter direitos como aposentadoria precoce e garantia de cobertura pelos planos de saúde.
Graças à iniciativa de pesquisadores brasileiros, a Síndrome Pós-Poliomielite (SPP) - desordem neurológica que acomete, na meia-idade, quase 70% das pessoas que tiveram pólio na infância - foi incluída na última revisão do Código Internacional de Doenças (CID 10). Com isso, a SPP deixa de ser vista como uma sequela tardia da pólio, o que garante aos portadores direitos como aposentadoria precoce e garantia de cobertura pelos planos de saúde.
Um dos primeiros a estudar a síndrome no Brasil foi o neurologista da Unifesp Acary Bulle Oliveira. Quando trabalhava com para-atletas, nos anos 1990, percebeu que aqueles que haviam sido vítimas de pólio, no auge da carreira, começavam a ter queda de rendimento sem explicação aparente. "Na literatura quase não havia informação sobre a doença nessa fase", conta.
O desconhecimento da síndrome pelos profissionais de saúde faz com que muitos portadores não sejam diagnosticados ou tenham de aguardar até seis anos após o surgimento dos sintomas para saber a causa.
Os primeiros sinais, que aparecem pelo menos 15 anos após a fase aguda da pólio, são cansaço excessivo e nova perda de funções musculares. Também são comuns graves problemas respiratórios, dificuldade para deglutir e para controlar os esfíncteres, distúrbios de sono e hipersensibilidade ao frio. Tanto pacientes que chegaram a sofrer de paralisia infantil quanto aqueles em que a pólio passou quase despercebida (mais informações nesta pág.) podem ser afetados. "Os neurônios motores que sobrevivem à poliomielite se adaptam para assumir o papel daqueles que morreram na fase aguda da doença. Essa sobrecarga, com o tempo, faz com que eles entrem em colapso", diz Oliveira.
O ideal para esses pacientes, portanto, é diminuir o ritmo de vida e evitar movimentos repetitivos. Ironicamente, a recomendação médica para os sobreviventes da pólio, no passado, era a prática de exercícios.
Conquista. Na década passada, muitos ainda questionavam se a SPP poderia ser considerada uma nova enfermidade. Em 2003, o fisioterapeuta Abrahão Quadros, impressionado com a pesquisa de Oliveira, decidiu montar um ambulatório multidisciplinar na Unifesp para atender aos portadores. No ano seguinte, teve início a batalha pela inclusão da pós-pólio no CID.
Pesquisadores e pacientes, reunidos na Associação Brasileira da Síndrome Pós-Poliomielite (Abraspp), conseguiram sensibilizar autoridades da saúde e o representante brasileiro no comitê que regulamenta o CID, Rui Laurenti, para encaminhar à OMS uma proposta de reconhecimento da doença.
A aprovação veio no ano passado e passou a vigorar em 2010, beneficiando pacientes no mundo todo.
Luiz Baggio, um dos fundadores da Abraspp e portador da síndrome, explica que a principal mudança é que a doença não poderá ser mais ignorada por peritos do INSS ao analisar pedidos de aposentadoria precoce. "Também garante que os planos de saúde cubram o tratamento e a colocação de órteses e próteses e ajuda a organizar as políticas públicas de saúde."
FONTE: ABRASPP/JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO
Publicado em 12 de junho de 2010
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